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Críticas

'Hereditário' | Sem clichês e com quase nenhum"jump scare" , nasce uma nova obra-prima do terror dessa geração

03/07/2018 - 07:00h | Por: Daniella Carbonetti

Há tempos em que não me sinto mais tão convencida pelos filmes de terror que vêm surgindo de tempos em tempos. A impressão que dá é que há uma certa obrigatoriedade de se produzir filmes do gênero independente de roteiro, orçamento e realmente uma boa motivação e criatividade. Particularmente, os meus filmes de terror favoritos da última geração se resumem a alguns que tentam quebrar a barreira do terror tradicional e não se utilizam tanto de recursos pobres de susto e "jump scares" descompensados - estes mais voltados ao terror psicológico e interpretativos - e também aos que são dirigidos por James Wan, que brinca com as sombras, têm um bom roteiro, e ainda põe uma certa dose de capricho e mistério em seus filmes, embora ainda se assemelhe mais com o terror tradicional. De resto, eu realmente fico indignada ao terminar um filme que parece existir sem propósito nem lógica. Até me pergunto: “qual o propósito de se gastar tempo, dinheiro e trabalho de toda uma equipe para fazer algo tão horrível assim?”.

 

E por incrível que pareça, fui ao cinema assistir 'Hereditário'até então ao meu ver mais um filme despretensioso, e me surpreendi terrivelmente (no bom sentido).

'Hereditário' tem integralmente uma trama voltada para o meio familiar após perder sua matriarca (mãe de Annie Graham (Toni Collette) e avó de Charlie Graham (Milly Shapiro) e Peter Graham (Alex Wolff)). Steve (Gabriel Byrne) é o marido de Annie e um homem equilibrado e sensato. A ambientação é incrivelmente misteriosa onde ao passo em que se desvenda segredos familiares, o pavor cada vez mais toma conta. A partir daí o desgraçamento é total após mais perdas ocorrerem e de modo em que o filme brinca com o telespectador até certo ponto, não o deixando saber ao certo se o terror que se segue é realmente de origem sobrenatural ou psicológica, levando em conta as situações desesperadoras pelas quais a família acabou de passar. A atmosfera macabra que o filme cria a cada cena é simplesmente espetacular, com efeitos sombrios, mais apagados e solitários, sem falar na trilha sonora magistral de Colin Stetson que por si só já apavora. A falta de trilha sonora, por sua vez, também gera incômodo nas cenas de maior tensão e se comunica diretamente com a cena em questão, onde o cair de um alfinete ou o sopro de uma brisa tem sua importância destacada.

 A atuação de Toni Collete beira a perfeição e é talvez o ponto de maior importância para manter a tal atmosfera: ela passa um desespero real com gritos apavorantes em diversos momentos, choros realmente sofridos, olhares, caras e bocas e todo e qualquer tipo de expressão que as cenas exigiam. Sua personagem como um todo na verdade, se torna bem complexa ao passo que vamos conhecendo sua personalidade e peculiaridades um tanto quanto bizarras. Alex Wolff não se sai nem um pouco diferente quando o assunto é transmitir pavor e choque.

Diferente de outros filmes do gênero, 'Hereditário' consegue causar tensão e um incômodo real como um bom soco no estômago, inquietando quem assiste e se assemelhando a clássicos do terror como 'O Exorcista' ao criar cenas incrivelmente chocantes e das mais viscerais do cinema. Uma cena em especial - SIM, SE VOCÊ ASSISTIU SABE EXATAMENTE DO QUE ESTOU FALANDO - não poupa os mais sensíveis e parte pro nocaute sem nenhum aviso prévio ou eufemismos no que diz respeito ao grotesco. A presença de "jump scares" é sutil ao mesmo tempo em que serve como ênfase na tensão pré-estabelecida, porém raríssimas as vezes em que podemos perceber algum uso desse artifício, sem falar que é muito bem empregado sem que haja clichês ou exageros.

 Também se assemelha aos filmes: 'A Bruxa', 'Um Lugar Silencioso' e tem nuances de 'Mãe!', que são outras recentes obras desse novo subgênero do terror.

A direção e o roteiro de Ari Aster tem em si um simbolismo indigesto chegando a ser profano, o terror escondido nas sombras, causa desconforto a cada suspiro e não entrega respostas tão facilmente, sendo necessário se atentar aos mínimos detalhes e diálogos. Tudo isso cria uma certa complexidade na trama porém nada indecifrável e abre brechas para diferentes interpretações.

É o tipo de filme que chega de mansinho e de pouco em pouco consegue te algemar na cadeira até arruinar completamente seu psicológico e atualizar suas definições de pavor ao desconhecido. Ao final do filme, a metáfora implícita em cada ato pode compôr uma interpretação que verse tanto para o lado do imaginário (como reflexo de traumas e agora manifestações psicóticas da família) ou para o lado do sobrenatural, onde aquilo tudo ocorreu literalmente. Qualquer que seja a interpretação do telespectador, o filme respeita suas convicções e não subestima sua inteligência.

 

Não tenho medo algum de dizer que é a provável mais nova obra-prima do terror da nova geração.

 

Sim, precisamos de mais filmes como 'Hereditário'.

NOTA: 9.8

OBS: Posteriormente também faremos a nossa crítica por vídeo explicando detalhes do filme. Fiquem ligados no canal CarbonTime no Youtube!

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