Críticas
"Star Wars: Os últimos Jedi" | Rey não consegue explicações. Nem nós. [PODE CONTER SPOILERS!]
15/12/2017 - 21:00 | Por: Daniella Carbonetti
Depois de dois anos após seu antecessor, "O Despertar da Força", o episódio VIII, intitulado "Os últimos Jedi" chega aos cinemas dividindo opiniões: uns se sentiram saciados pela trama inconclusiva e previsível, outros não.

A expectativa para o episódio VIII da saga esteve alta desde muito tempo. Quando o subtítulo foi revelado e os trailers lançados, houve alvoroço e diversas teorias começaram a surgir, sobre quem por exemplo, seriam "Os últimos jedi". Com os trailers aparentemente caóticos, teorias de extinção dos jedi ou de Luke ser o novo vilão do filme também começaram a surgir. Os pôsteres complementares do lado da luz e lado negro com Luke no fundo de ambos era um ponto que também reforçava bastante a teoria. Mas não foi bem assim. Os trailers enganaram com cenas picotadas e fora de contexto inseridas em sequência para fomentar a curiosidade e o alvoroço.



A trama começa com Rey (Daisy Ridley) finalmente encontrando Luke Skywalker (Mark Hamill) num planeta isolado e lhe entrega seu sabre de luz, assim como mostrado no final de "O Despertar da Força" (final bombástico, por sinal) - a reação de Luke foi um tanto quanto inusitada e bastante engraçada - e pede para que ele ajude sua irmã Leia e a Aliança Rebelde na empreitada contra a Primeira Ordem, liderada pelo Líder Supremo Snoke, onde Kylo Ren (Adam Driver), que é na verdade Ben Solo, seu sobrinho e aprendiz, migrou após ir para o lado negro da força. Rey também pede para que Luke lhe ensine a ser uma jedi. Depois de muita relutância, ele concorda. O ar de de mistério que envolve esse arco é um tanto quanto interessante, já que durante o treinamento, Luke sente o poder que Rey possui e chega a sentir medo de sua força bruta, uma vez antes visto em Kylo e temendo que o mesmo acontecesse com ela. Outro aspecto bastante interessante é a beleza de imagens que se sucedem enquanto Luke orienta Rey a meditar e a sentir a força emanando dentro dela. Uma das cenas mais bonitas explicando o que era a força na verdade: a energia que move o universo. Durante a meditação, Rey também sente sensações ruins, revelando que nem tudo é belo, descobrindo o equilíbrio do universo que Luke havia acabado de lhe ensinar e tal lema que será abordado durante todo o filme.
Paralelamente, o foco muda para a Resistência, com a General Leia Organa (Carrie Fisher) tentando impedir os avanços do exército da Primeira Ordem liderado pelo General Hux (Domhnall Gleeson). O piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) se faz muito importante com seus acessos de impetuosidade e ansiedade em executar seu trabalho com eficiência, caracterísiticas que o fazem um dos melhores personagens com identidade própria e que fazem Leia o amar e o odiar ao mesmo tempo por muitas das vezes desacatar suas ordens. As cenas de batalha no espaço são empolgantes porém se tornam agonizantes em alguns momentos já que a maior curiosidade é saber o desfecho da trama envolvendo Rey, Kylo e Luke. O filme traz novos conceitos da força e de como usá-la, criando um momento badass com determinada personagem.
O arco envolvendo Finn (John Boyega) e sua mais nova amiga Rose (Kelly Marie Tran) durante uma aventura numa espécie de Planeta Cassino, não funciona, não cria química alguma entre os dois e faz da sua nova parceira uma ponta solta no filme, um "tapa buracos" desnecessário. O humor não funciona de modo algum entre os dois. Falando em humor, o filme apresenta muitas piadinhas desnecessárias também. Algumas piadas são simplemesmente sensacionais e se encaixam muito bem, outras simplesmente são forçadas. A luta de Finn contra a Capitã Phasma (Gwendoline Christie é um momento capaz de despertar euforia em quem assiste.
Um ponto decepcionante foi a aparição do novo droid da saga, o BB-9, o BB-8 do lado negro, que prometia ter o seu espaço no filme, mas surgiu por não mais do que 5 segundos em todo o filme. Porém o BB-8 continua roubando a cena e dessa vez teve um papel muito mais relevante na trama. Um outro destaque, os "Porgs" foi super válido. Os bichos fofinhos que habitam o mesmo lugar que Luke em seu exílio conseguem encantar com momentos de fofura. Uma das cenas dos trailers, de um Porg em conjunto com o Chewbacca é bastante divertida. A trilha sonora clássica em diversos momentos do filme criam cenas bonitas e com maior peso.
A ideia central do filme é simplesmente linda, já que polariza muito bem o conceito de "bem e mal", fazendo uma alusão "aos dois lados da moeda". Explica o conflito entre Luke e Ben antes de se tornar Kylo, mostrando que os dois tiveram um papel tortuoso na relação entre mestre e aprendiz. Isso explica o isolamento de Luke e o trauma que o perseguiu durante muito tempo. A atuação de Mark Hamill é absurdamente louvável. Um dos pontos mais altos do filme, sem dúvidas. Kylo Ren teve um destaque grande no filme, com a trama praticamente toda girando ao seu redor e ao redor de Rey. Porém Kylo continua com seus ataques histéricos de ira, parecendo um adolescente mimado e não passa disso. Tenta mas não convence. Não chega nem perto da maldade que seu avô, Darth Vader um dia chegou.
A aparição de um personagem clássico e muito querido por todos também é um dos pontos mais altos do filme, capaz de trazer nostalgia. E ele aparece para orientar Luke no meio de suas incertezas e aflições. Tmbém há o reencontro entre os irmãos Skywalker, Leia e Lulke - momento que é capaz de emocionar.
A direção de Rian Johnson ousa na tentativa de surpreender, mas o que entrega são inúmeros arcos corridos, inconclusivos e com extrema previsibilidade. Os diálogos, elementos de cena e de atuação entregam o jogo antes que o telespectador possa realmente se surpreender de fato. Vou citar dois exemplos nítidos de previsibilidade [CUIDADO! PODE CONTER SPOILERS A SEGUIR!]:
-
Kylo Ren sente um ódio mortal pelo Snoke e pela forma como ele o trata. Sai da sala e destrói seu capacete. Após isso, quando lhe entrega Rey, é possível notar seu olhar de ódio para Snoke. O que vem a seguir foi extremamente previsível.
-
Quando Luke chega para o embate com Kylo, é possível notar que sua aparência não é a mesma, entregando quase que imediatamente o jogo de que não era ele fisicamente ali. Quando Kylo parte com o sabre "cortando" ao meio Luke, dá pra notar nitidamente que foi uma isca que Kylo mordeu de Luke com o propósito de revelar o seu ataque histérico em vão.
Durante o segundo ato do filme, Rey entra num "poço" sombrio para buscar respostas sobre quem ela era e qual seu papel nisso tudo. Ela encontra experiências estranhas mas não consegue obter respostas. Nem nós enquanto telespectadores entendemos muito bem qual o propósito daquilo.
Uma das cenas que com certeza é capaz de mexer com o telespectador mais frio é o que também era previsível mas não menos chateante: Após vencer Kylo Ren no combate feito por telepatia, Luke entrou para força voluntariamente, assim como seu mestre, Obi-Wan Kenobi. A cena é muito bonita, com o horizonte de fundo fazendo referência à sua juventude em Tatooine.
A impressão que dá no geral, é que o filme foi desnecessário e que anda em círculos. Três horas de filme que poderiam ser resumidas em uma hora, e as outras duas fechariam a nova saga. Mas não foi feito. O título sugeria um tom mais caótico, com ameças reais e momentos de tensão eram super esperados, mas infelizmente isso não acontece. As resoluções dos conflitos são muito rápidas. O filme começa e termina quase que da mesma forma, com mais perguntas do que respostas.
O ato final é bastante bonito, despertando uma nova era de esperança para a galáxia, mas nós enquanto fãs da saga merecíamos um pouco mais. Merecíamos aquilo que o filme tinha real potencial para ser e não foi. Foi um bom filme e talvez seu erro tenha sido exatamente esse: foi apenas bom e não excelente como todo filme de Star Wars merece ser.
Fica a esperança de que o terceiro e provável último filme da nova trilogia supere os dois primeiros e faça jus ao nome da saga.
Há uma breve e bonita homenagem a Carrie Fisher no final do filme.
Nota: 7,0





